Apresentação

Nos países classificados como “subdesenvolvidos” ou em “desenvolvimento” as expressões artísticas são geralmente acessíveis apenas para um pequeno grupo de privilegiados, chegado às vezes a reforçar as desiguadades sociais. As elites dos diversos países normalmente imitam as artes dos países classificados tradicionalmente como desenvolvidos: música clássica, ballet, opera, entre outras,  e utilizam esse conhecimento como mais  uma forma de se diferenciar e reforçar seu status social. Nesse cenário, o circo reconhecido milenarmente como uma arte popular que agrega e rompe barreiras se destaca por representar o oposto. O circo é patrimônio da humanidade e agrega povos de diferentes culturas, idades, etnias e posições sociais.

Ele trabalha a superação de desafios, com o risco controlado das atividades.  Os saltos, quedas do tecido ou passagem no trapézio balanço são formas de direcionar uma grande quantidade de energia de força e até mesmo “violência” com o controle das conseqüências. Além disso, permite ao indivíduo que pratica à atividade administrar a sensação de medo e aprender a supera-la com treino, esforço e disciplina.

Boa parte das atividades físicas e esportes, têm características competitivas que reforçam a dualidade: ganhadores e perdedores. O circo, se contrapõem a essa lógica, e fortalece o espírito de coletividade. A natureza das atividades circenses é composta por estímulos de cooperação e solidariedade no trabalho de equipe, pela interação e necessidade prática de estar ambientado com o grupo.

Impossível fazer uma pirâmide humana, sem confiar no colega, se preocupar com todos do grupo e achar um ponto comum, onde todos com suas características pessoais são aceitos e mais que isso, necessários para a sincronia da pirâmide. É preciso pessoas de estrutura grande na base, pessoas pequenas e leves no topo, todos trabalhando em sincronia para alcançar o objetivo final.

As modalidades circenses proporcionam, de forma mais ampla, a melhora da auto-estima, auto-superação e percepção de si mesmo, tanto em aspecto físico como emocional e psicológico, visto que, por se tratar de uma arte, envolve o olhar do espectador e os gatilhos ativados no artista/educando por esse olhar. De maneira lúdica e recreativa, os educandos vencem pequenos desafios, com risco controlado das atividades, superando medos e vergonhas, condicionamentos mentais e culturais e sistemas de crenças que limitavam sua expressão.

Além do fortalecimento e melhora no condicionamento físico, incluem-se benefícios específicos como melhora do equilíbrio, concentração, coordenação motora, sensibilidade na expressão corporal e criatividade. O circense aprende a ver o mundo por diferentes perspectivas, de cabeça para baixo em uma parada de mão ele pode ver o mundo de outra forma. Nos experimentos criativos é possível voar, virar um boneco, um pássaro ou uma fada. No mundo do circo tudo pode acontecer, nele o impossível simplesmente não existe.

Por ser uma atividade que naturalmente proporciona todos os benefícios citados anteriormente, há cerca de vinte anos, algumas iniciativas começam a aparecer na América Latina de forma pioneira e passam a ser replicadas em diferentes partes do mundo. Essa iniciativas, visam gerar o desenvolvimento humano e social de suas comunidades, ser um elemento agregador e ativo no rompimento de barreiras sociais, culturais e econômicas, e o circo foi escolhido, como principal ferramenta para alcançar esses objetivos.

O projeto Intervenções de Circo Social surgiu do contato de Juliana e Leandro com países africanos que enfrentam graves problemas sociais, mas mesmo diante de tanta adversidade continuam tendo o sorriso, a garra e alegria como características marcantes de sua cultura. Depois das experiências em circo social acumuladas no Brasil, Itália e Chile e Espanha, o projeto se iniciou em Moçambique e passou por 12 países, atingindo cerca de 6700 educandos. Em 2015 teve início uma nova etapa, mediante a atução prolongada em escolas do entorno de Brasília e a capacitação de intrutores locais em circo social.